Em algum lugar do mundo, 08 de abril de 2014
Às vezes, sinto-me triste (quem não?). Sem nenhuma explicação. Sem
nenhuma previsão. Só sinto vontade de voltar pra casa e me encolher na cama,
embaixo de um cobertor, até passar. Esse sentimento muitas vezes vem como impotência,
principalmente perante as injustiças, maluquices e fatalidades da vida. Por que
será?
Vejo-me preocupada e estressada com várias coisas que não são realmente
necessárias. Piro, julgo e, em algum momento,
tudo isso acumula e preciso respirar. Essa tristeza é como uma limpeza a um acúmulo, como lixo guardado e,
enquanto esse lixo é limpo, sinto-me triste. Algo como um esgotamento de tudo, de
todos e de mim mesma. E já que não posso largar tudo e ir para casa, isolo-me
em mim.
Mas, essa tristeza (que não sei se é tristeza ou se me falta uma palavra
melhor para descrever) é sempre acompanhada por algo lá no fundo, algo que fica
bem apagado, mas que ainda existe, mesmo nestes momentos. Algo que diz que tudo
está certo e que vai passar. Algo como paz, como colo de mãe quando somos
crianças. Algo que não sei o que é, mas que deixa minha tristeza cercada de
paz. E em várias segundos, enquanto
estou triste ainda estou feliz. Como se fossem andares diferentes dentro de mim
mesma, um em luto e outro em festa. E, de repente, não faço questão de escolher
em qual andar desejo estar. Eu canso e só observo de um terceiro andar vazio e
branco, acometida ora pelo barulho da festa ora pela tristeza do luto. E choro,
e rio, e esqueço até que durmo e outro dia começa com outros andares, milhares
de andares ao mesmo tempo.
Não sei se é certo ou errado estar neste andar branco e vazio. Nele, nada sobra e nada falta. A temperatura é confortável.
Não existe cheiro, não existe estímulo. Desde criança tenho necessidade de
voltar pra lá, mas estranhamente não sabia onde e como era. Somente hoje
consegui descrevê-lo em palavras. Cada vez mais, sinto necessidade de voltar
para este lugar. E não é porque não gosto dos outros andares. Eu gosto! Mas é
informação demais. É sentido demais. Cheiro, gosto, barulho, sentimento,
pensamento, tudo demais. Por isso me canso rápido e preciso constantemente
voltar para o andar branco e me reequilibrar. E no momento em que vou, as
pessoas me sentem distante.
Hoje em dia, não posso mais estar lá quando quero. Às
vezes preciso esperar, pois devo estar concentrada nessa bagunça, no trabalho,
na faculdade, nas conversas. Quando era criança, isso me irritava. Hoje, consigo ter mais paciência. Meu andar está sempre lá me esperando.
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