Algum lugar do mundo, 08 de maio de 2016
“Se a gente cresce com os golpes
duros da vida,
também podemos crescer com os toques suaves na alma.”
Cora
Coralina
Nestes tempos acelerados, em que
ansiedade virou epidemia e falta de tempo motivo de orgulho, quando foi a última vez que você tocou sua alma com carinho?
Fazer o melhor,
ser o melhor, superar, produzir. E, de repente, nos esquecemos do que realmente
importa, da essência e do que nos dá energia e alegria para prosseguir.
Tocar a própria alma é algo muito
particular que envolve coisas singelas. A alma não faz questão de
estardalhaços e somente atitudes delicadas, daquelas quase imperceptíveis a olho-nu, é que podem tocá-la.
Um chocolate quente, um cochilo
breve mas revigorante, o cheiro de uma flor, café com biscoitinhos. O abraço de
um amigo, um banho reconfortante, ligar para a família (aquela do seu coração). O calor
do sol no inverno ou a sombra de uma árvore no verão. Sentir a brisa, o cheiro
de chuva, ouvir ou tocar aquela música que te faz lembrar quem você é. Um
livro, uma poesia, um filme. Tocar a grama, espreguiçar, colocar uma música no seu
quarto e dançar até cansar. Cantar, meditar, respirar. Seu moletom velho e
confortável. Cheiro de alho refogado. Aquele bolo que saiu do forno. Uma
lambida do seu cachorro. Dar-se um abraço e dizer “Ei, você fez seu melhor!
Estou orgulhoso de você.”.
Normalmente, o que toca nossa alma
está muito ligado às nossas memórias de infância, quando ainda estávamos mais
conectados com nossa essência. Infelizmente, nós crescemos e esquecemos o quão
importante é manter esse contato. Sem ele, morremos aos poucos. A vida torna-se
mecânica e sem sentido. A tristeza aparece.
O bom dessa coisa de tocar almas é que elas, por mais diferentes que sejam, podem comunicar-se umas com as outras. Mesmo que você esqueça de tocar a sua própria, cada vez que chega na de alguém, é instantaneamente tocado.
Mas, como foi dito, almas são feitas de material puro, tocadas apenas com delicadeza. Naquele sorriso sincero, naquele gesto de preocupação, naquela surpresa pequena, porém doce e cercada de carinho. Tudo que é genuíno chega até as almas. Toca fundo e ressoa para as outras, em diferentes cores e melodias suaves. Após tocar todas as almas existentes, dissipa-se pelo universo e fica na memória.
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